domingo, 24 de outubro de 2010

Texto de Elisa Lucinda

Ao procurar no youtube a música A carta cantada por Renato Russo, encontrei outro vídeo com esse nome, mas de um show da Cantora Ana Carolina, como admiradora de sua voz e forma de cantar tive curiosidade em escutar e me deparei não com uma música, mas com uma carta que me chamou muita atenção e é de extrema importância que todos leiam, principalmente agora que se aproxima o dia do segundo turno.
A autora é Elisa Lucinda e o texto se chama SÓ DE SACANAGEM.

Meu coração está aos pulos!

Quantas vezes minha esperança será posta à prova?

Por quantas provas terá ela que passar? Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu, do nosso dinheiro que reservamos duramente para educar os meninos mais pobres que nós, para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais, esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.

Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova?

Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?

É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.

Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam: "Não roubarás", "Devolva o lápis do coleguinha", "Esse apontador não é seu, minha filha". Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar.

Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar e sobre a qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará. Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda vou ficar.

Só de sacanagem! Dirão: "Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo mundo rouba" e vou dizer: "Não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau."

Dirão: "É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal". Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal. Eu repito, ouviram? Imortal! Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente quiser, vai dar para mudar o final!

(texto lido por Ana Carolina em seu show)

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O PAPEL SOCIAL DA ESCOLA E O MÉTODO PAULO FREIRE


A escola deve ser um lugar privilegiado, onde as crianças e os jovens possam desenvolver as suas habilidades, fazer suas descobertas e conhecer as suas formas de lidar com o mundo. Eles ainda podem construir nela como ser sujeito e como ser relação. Para a escola realizar de forma correta sua função, é necessário considerar as práticas da sociedade sejam elas de natureza econômica, política, social, cultural ética ou moral. Por isso é fundamental conhecer as expectativas da comunidade, das necessidades, formas de sobrevivência, valores, costumes, manifestações culturais e artísticas. A escola é um local que visa à inserção do cidadão na sociedade, através da interelação pessoal e da capacitação para atuar no grupo que convive. A ajuda que se recebe da escola, através do professor é fruto das “qualidades pessoais, as características de seus alunos, as especificidades de sua disciplina e os recursos disponíveis na escola.

Em relação a isso, Paulo Freire sublinhou a necessidade de que o educador conhecesse profundamente sua realidade e a de seus educandos, admitindo que “os outros” estão, como ele, condicionados pela realidade dialeticamente permanente e mutável. O educador comprometido com a mudança se interessa em compreender a própria percepção que o educando tem de sua realidade, ainda que condicionada pela estrutura social em que se encontra. A educação reflexiva não está voltada à adaptação, mas à transformação. Por isso, criticou efusivamente o modelo pedagógico da educação

bancária onde o estudante é “aluno”, um mero depositário dos conteúdos programáticos definidos pelo professor como os mais importantes.

Para Paulo Freire, cidadão significa "indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado" e cidadania "tem que ver com a condição de cidadão, quer dizer, com o uso dos direitos e o direito de ter deveres de cidadão". É assim que ele entende "a alfabetização como formação da cidadania" e como "formadora da cidadania". (FREIRE, Paulo. Política e Educação, Cortez, 1993.) A práxis freiriana trata a educação para além da sala de aula, relaciona-se a todo um contexto de opressão social e ausência de democracia.

Com isso, Freire destaca que os alunos quando chegam na escola também tem o que dizer e não apenas o que escutar, por isso a importância de se considera as expectativas daquela sociedade para assim ocorre um exercício de democracia participativa onde ocorrerá uma democratização da sociedade e assim a escola cumprirá a sua função social de formar cidadãos que estejam realmente comprometidos com a sua sociedade.